fbpx

Escolas pela Paz

Queridas famílias,

Diante dos últimos dias, temos vivido sentimentos bastante complexos e um tanto difíceis de serem digeridos, não é verdade? Ainda sobressaltados e receosos, seguimos elaborando o que se passa dentro de nós. Imaginamos o quanto pode estar sendo desafiador para vocês o que estamos vivendo no nosso mundo. E queremos convidá-los para algumas reflexões. Sentem aqui do nosso lado.

Nossa sociedade está doente! Nossos meninos e meninas estão implorando por atenção, estão pedindo colo e expressando, das formas mais impactantes, o que estão sentindo com a própria existência. Sim, sabemos que ter um filho é um caminho sem volta e que sempre há mais dúvidas do que certezas nesse percurso. É por isso, que queremos falar com vocês.

Formar seres humanos nunca foi responsabilidade única da família. Educar pessoas é compromisso social. Cada criança que habita o mundo é um convite para o mundo dialogar. O seu filho que nasceu de você, ou foi escolhido por você, é o nosso aluno, mas é também colega ou amigo do filho de outra família, que é vizinho de uma outra criança e que frequenta ambientes onde também convive com mais outras crianças. O equilíbrio da vida de uma criança é fundamental para a vida que ela terá quando se tornar adulta. Por isso, tudo o que é ofertado hoje entra na conta do amanhã, ainda que vocês, responsáveis, não fomentem ou afirmem não concordar. Criança é esponja: ela absorve muito do que vê e vivencia, mais do que o que escuta. Ao entrarem numa escola, uma amostra da vida em sociedade se inicia. Por favor, continuem aqui sentados ao nosso lado.

Queremos escrever para vocês para dizer que nossa Escola tem pensado, diariamente, em estratégias diante do cenário atual. Além de pensar aspectos sobre segurança e treinamento de pessoal, nossa equipe está empenhada em assegurar o clima de paz entre nossa comunidade e, para isso, contamos com vocês para compartilhar algumas ações importantes, afinal, só a paz para cultivar a paz e somente com amor, nutriremos sentimentos de segurança e proteção para nossas crianças. Após algumas reuniões realizadas internamente, seguem abaixo orientações de especialistas e estudiosos no assunto, articuladas às concepções da nossa Escola:

Evitem ao máximo informar ao seu filho sobre novas notícias de ataque ou ameaça. Isso inclui não falar sobre, nem compartilhar fotos, vídeos ou mensagens que tratem do tema. Tais assuntos devem circular APENAS entre pessoas adultas e de sua extrema confiança – quando compartilhamos essas notícias, considerando que estamos contribuindo para alertar as pessoas, na verdade, estamos, também, contribuindo para espalhar o horror, para instaurar o pânico, além de propagar possíveis fake news que atrapalham as investigações e o trabalho das autoridades;

Se o seu filho falar sobre o assunto, dê toda atenção a partir do que ele lhe disser. Escute, olhe nos seus olhos, abrace, chorem juntos, se for o caso. Diga o que você pensa sobre tudo isso, dentro da linguagem possível, respeitando cada faixa etária – a criança precisa sentir que você sabe sobre o que está acontecendo, mas ter a certeza que está protegida numa esfera do bem. Sentir esse lugar seguro a fará mais fortalecida para lidar com a situação;

A supervisão do que seu filho acessa em redes sociais se faz mais do que urgente agora. O tempo de tela e suas repercussões são alvos de estudos e pesquisas há décadas. Saber o conteúdo que seu filho acessa e por quanto tempo isso acontece é responsabilidade da família, por isso, solicitamos que, em caso da criança não poder evitar o uso dos eletrônicos, que estes sejam vigiados pelos seus responsáveis. É sabido por todos que jogos com conteúdo violento de tiro, arma, luta, vingança, morte e sangue são elementos que nutrem a mente e a emoção de nossas crianças e adolescentes. Isso vai atravessar a atenção, a concentração, a qualidade do sono, o humor, a alimentação e, especialmente, as relações e emoções;

Chamamos especial atenção para conversas no WhatsApp, Instagram, Tik Tok, dentre outros, por serem as redes sociais mais utilizadas pelas crianças para manterem relações sociais. Estas podem ser saudáveis, mas muitas vezes, não são e, sabemos que hoje, muitas situações de conflito que antes eram conferidas no contexto presencial/escolar, foram “camufladas” pela tecnologia. Pedimos atenção redobrada e sugerimos, inclusive, que espelhem o WhatsApp de seu filho para acompanhar, em tempo real, conteúdos trocados, pois muitas crianças têm utilizado o espaço virtual para agredir, ofender e ameaçar e, logo em seguida, apagam as mensagens para não serem vistas depois, o que limita a supervisão e a intervenção do adulto;

A supervisão dos materiais escolares, a partir de hoje, precisa ser diária, caso isso já não aconteça. Estojos, lancheiras e mochilas necessitam de vigilância constante. Objetos cortantes e que julguem fomentar o medo e desproteção devem ser evitados sempre, especialmente no momento atual – investir no sentimento de paz e tranquilidade é o que buscamos para todas as crianças;

Ao notarem alguma conversa inapropriada em rede social entre crianças da nossa escola, pedimos que nos sinalizem, assim que possível. Desta forma, poderemos sinalizar para outras famílias que, por ventura, não acessaram o mesmo conteúdo inapropriado de seu filho com o colega. Aqui, pedimos muito cuidado nessa ação, pois é importante que sejamos sinalizados de maneira presencial, evitando propagar mensagens em grupos de WhatsApp de famílias, onde não se faz o melhor canal de comunicação para esse tipo de conteúdo. Assim, caberá à escola pensar estratégias junto a essas famílias específicas. Não vamos tornar público aquilo que é privado e esse cuidado ético precisa fazer parte da postura das famílias também.

Agora, gostaríamos de compartilhar com vocês algumas ações específicas dentro do nosso contexto escolar, que estão sendo pensadas sistematicamente:

– As crianças que expressaram sentimentos relacionados ao momento atual estão sendo acolhidas através da escuta e diálogo por suas respectivas professoras e demais membros especializados da equipe escolar;

– O Núcleo de Psicologia tem pensado estratégias dentro das salas de aulas com as crianças para cultivar os valores que tanto acreditamos: Solidariedade, Empatia, Respeito, Diálogo e Generosidade. É importante deixar claro que estamos respeitando o momento de cada grupo e a forma como cada um vem configurando suas percepções acerca do tema em questão. Ao passo que cada criança/cada grupo se expressa, ações individuais ou coletivas são articuladas internamente pela equipe. Quando a equipe considerar importante tratar de tais ações com algumas famílias específicas, estas serão acionadas;

– O nosso tão conhecido GAP – Grupo de Apoio entre Pares – será fundamental nesse momento para a nossa escola. Ações específicas serão apresentadas e pensadas junto às crianças gapeiras no próximo encontro e contamos com as respectivas famílias nesse sentido;

– Pedimos total atenção de vocês, responsáveis, para que evitem novos portadores para as crianças nas próximas semanas. O trânsito de pessoas “novas” precisa ser evitado para não trazer possíveis sentimentos de “estranheza” para as crianças e também para facilitar o trabalho dos nossos agentes de portaria, pois, quanto mais rostos familiares visualizarmos dentro do ambiente escolar, mais iremos promover o sentimento de paz que tanto almejamos e a sensação de tranquilidade e proteção que todos precisamos;

– Solicitamos que, para as próximas semanas, também, evitemos agendar visitas e observações de profissionais que acompanham algumas de nossas crianças, a exemplo de psicólogos clínicos, psicopedagogos, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, dentre outros. Que esses momentos de reuniões com a equipe possam se dar, prioritariamente, no formato online;

– Aulas em/de campo, atividades externas previamente agendadas estão suspensas até que possamos retomá-las com a garantia de todas as crianças estarem frente à esfera de paz e segurança.

Para selar nossa intenção, pedimos que, ao longo dessa semana, nossas crianças ofereçam aquilo que elas possuírem de melhor. Sugerimos, portanto, uma sequência a favor da cultura da paz e, para isso, sugerimos que ao entrarem na escola, uma frase, um desenho ou um gesto seja deixado na nossa portaria, tal ação poderá acontecer ao longo desses dias. Na medida em que respeitamos o momento da criança e seus sentimentos, validamos também o espaço e o símbolo da sua escola com o valor real que esta possui na vida das crianças: lugar de aprendizagem, brincadeira e muito afeto.

Agradecemos por terem permanecido sentados conosco até aqui.  Às famílias Experimental, ofertamos nosso abraço, nossa escuta e nosso afeto, afinal junto ao escolas pela paz, vocês não estão sozinhas e que todo o bem está sendo propagado, pois a nossa Escola sempre foi e seguirá sendo um lugar seguro que cultiva o amor e a união em detrimento de qualquer situação.

Grande abraço,

Equipe Experimental.